Ab imo pectore.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

INTELECÇÃO E EMOÇÃO


*Vianney Mesquita


Nalgumas ocasiões, apreciei, sob o prisma formal de elocução e gramática, os corretos escritos acadêmicos da Prof.a Francy Macedo, salvante lapso de lembrança, desde sua graduação, até o projeto de doutoramento, ora desenvolvido por ela junto à Universidade de São Paulo – USP.
Mestra jovem, no entanto, dotada de esmerados aprestos universitários no campo de conhecimento parcialmente ordenado escolhido para cultivar, agora – não sabia eu – envereda, com jeito, graça e beleza, pelo terreno da crônica, ficção e poética, no qual se demonstra, de plano, escritora pronta nesta seara, a igual do acontecido na senda da escrita científica.
Este, sem dúvida, é fato auspicioso e salutar, porquanto o trajeto e a fixação na mera ciência – feliz ciência, cujo escopo é afluir ao bem da Humanidade – muita vez deixa seu militante pesquisador na sequidão dos sistemas teóricos, na aridez anímica dos laboratórios e campos de prova, quando se descuida do espírito e deslembra da existência da Alma.
Como o faz, penso, é o modo apurado de proceder, entretecendo o componente da atividade formal categórica da ciência (embora exato, álgido e indiferente aos apelos do sentimento) com a sensibilidade do coração e a elevação incorpórea, em contraposição à matéria, por via da crônica, do conto, do estro e ardor poéticos, expressos com qualidade inconcussa neste volume.
Escolheu muito bem a autora deste Sublime Influxo –  ao dosificar  com a devida justeza os símplices da intelecção (científica) e da emoção (literária) – seus assuntos a tornear, imprimindo aos conceitos expendidos o caráter misto na literatura por ela exercitada, fato, suponho, do agrado, também, dos leitores atuais e a granjear, pois se espera prolífica sua produção.
Evidentemente, nestas guarnições, não me impende comentar as diversas partes do livro, sob pena de subtrair do público ledor a surpresa e a novidade. É válido, entretanto, asserir a gratificação por mim experimentada no decurso de sua leitura, hajam vistas o apuro estilístico, o capricho imprimido quando da expressão das emoções, o requinte dos desfechos, o esmero na forma de grafar, alfim, a sobreexcelência desta produção, mesmo em se tratando, ainda por enquanto, de escritora incipiente nos enredos das letras de ficção e poesia.
Fortaleza, janeiro de 2011
*Vianney Mesquita é professor da Universidade Federal do Ceará, jornalista e membro titular das Academias Cearenses da Língua Portuguesa, e de Jornalismo e Literatura (cadeiras números 35 e 11, respectivamente).