Dez libraS, dez dólareS,
todavia dez eurO
Vianney Mesquita*
Assimilar uma língua estrangeira em gramática ou manual é o mesmo que aprender pugilismo num livro de Anatomia (Pietro Silvio Solonghelo Rivetta, dito Toddi. – jornalista, escritor, ilustrador e cineasta. YRoma, 08.07.1886 – † 01.07.1952).
Antes de oficializado o Tratado de Maastricht, instituinte da União Europeia, assinado nessa cidade dos Países Baixos, Capital de Limburgo, em 7 de fevereiro de 1992, pelos Estados-Membros fundadores – Bélgica, França, Alemanha, Itália, Luxemburgo e Países Baixos - era um deus-nos-acuda todas as vezes que se transpunha um país europeu e se necessitava adquirir a unidade monetária para despender na nação aonde se chegava – ponto de fulcro deste comentário.
Ab initio, decerto, é bom informar que a U.E. resulta da assinatura de vários acordos internacionais, feridos no ano de 1948, sendo que, em 1952, foi firmada a instituição da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Este representou o primeiro grande passo para a consolidação do bloco, resultante de debates efetivados no ano anterior, em Paris, a fim de convalidar a noção de uma Europa em paz, unida e próspera, alimentada desde a Primeira Guerra Mundial, sob o descortino de líderes eurocontinentais históricos, como, dentre muitos, Konrad Adenauer, Winston Churchil, Jean Monet, Robert Schumann e Altiero Spinelli.
Seguindo-se à mencionada CECA, ocorreram muitas cimeiras europeias, à proporção que mais Estados aderiam à ideia, até que se consolidou, em definitivo, em Maastricht, como antecipado linhas atrás, este bloco econômico, político e social, atualmente com 28 Estados-Membros, partícipes desse projeto integrador na contextura do território do Antigo Continente.
Eis que, por absoluta necessidade de conceder mais facilidades às negociações comerciais, políticas e sociais, não apenas cingidas ao Velho Mundo, mas também com tenções internacionais, no que respeita às relações diplomáticas, atividades turísticas e àquelas de outras ordens nos vínculos das comunidades das diversos Estados, houve-se por bem criar, para circulação nos Estados adotantes e operações de câmbio em todo o orbe, a numisma a que se denominou euro, em curso desde primeiro de janeiro de 1999. Esta serve como papel-moeda de circulação naquelas nações que o perfilharam, eliminando-se, ipso facto, outros padrões numismáticos nas transações comerciais e outras necessidades próprias dos eventos de permuta monetária, de sorte que não têm mais curso, por exemplo, o franco francês, tampouco o florim, nem a lira italiana, muito menos o escudo, a peseta e outros dinheiros outrora de emprego dos outros países-parte dos dezoito insertos hoje na chamada Zona do euro.
A título de curiosidade, é oportuno dizer que, aqui na América do Sul, somente uma nação – a Guiana Francesa, departamento ultramarino de França – utiliza o euro como moeda comercial (não mais o franco francês) e para operações próprias, pois a antiga Guiana Inglesa, hoje República Cooperativa da Guiana, adotou o dólar guianense, ao passo que a Antiga Guiana Holandesa – hoje Suriname – assumiu como níquel o dólar surinamês.
Eis que, agora, adentro o punctum saliens destas notas. É que surde um aparente busílis, assentado no fato de a unidade de ideia euro defluir de uma contração do vocábulo Europa, em homenagem a essa parte do Mundo onde ele corre. Então, por isso, deverá a palavra ser grafada com letra inicial grande? Simplesmente, a resposta é não, pelo menos na contextura da Língua Portuguesa, porquanto os nomes conotativos das designações monetárias não estão no rol daqueles cujo sinal alfabético de saída deva ser maiúsculo – os nomes próprios.
Parece complicar um pouquinho mais, no concernente à representação de número – singular ou plural – no Português, problema que a própria União Europeia já houve por bem, desde o início, resolver, de sorte a não haver qualquer razão para se operar toda essa vexata questio, aliás, controvérsia descabida, assente na dúvida – que este escriba não exibe – acerca de pluralizar o termo euro ou deixá-lo sem o “s”, mesmo sendo mais de um.
Conforme o leitor divisa nas duas fotografias das notas de real e euro, os valores estão assim escritos – 100 REAIS e 20 EURO – no caso da moeda estrangeira, por determinação da própria União Europeia, sem a letra “s”, elemento de pluralização em Língua Portuguesa, o que não sucede em francês, alemão, holandês, flamengo, finlandês, grego e outros códigos em curso nos Estados da Zona do Euro.
Sendo, pois, o real numisma nacional, i. é., apenas do Brasil, impõe-se o emprego do “s”, nos casos de acima de um, é claro. Não haveria, porém, a União Europeia de impor um plural somente com base nas regras de Portugal – aos outros dezessete países que assumiram a moeda, até porque, nas línguas da maioria, as regras de seus números – singular e plural – são diferentes.
Então, inexiste dúvida, ausência comprovada na própria decisão da EU de não pluralizar a dicção euro.
Certo e induvidoso, pois, é o fato de que euro não tem plural!