Ab imo pectore.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

PROSA AOS DOMINGOS





Nutro particular afeição pelo jaez literário da crônica. A leveza desse gênero, decerto, atrai a maioria dos leitores, nomeadamente se veiculada nos diários sabatinos e dominicais.

Nos fins de semana, os cadernos se conformam, também, a matérias menos prosaicas, transpondo a trivialidade de notícias, reportagens, entrevistas e demais expedientes informacionais a suster o periodismo diurnal das nossas cidades.

O exercício da crônica, a despeito de praticado desde datas muito recuadas, como suporte de relatos verdadeiros e nobres, passou, nos oitocentos, a ser móvel da atenção de escritores de nomeada, os quais a desenvolveram à saciedade, para refletir, com perspicácia e em momentos propícios, a vida da sociedade, concernente às relações sociopolíticas, motos culturais citadinos e a tantos outros motivos a ensejar conceitos.

Conforme o fizeram, exempli gratia, no Brasil e em Portugal, Machado, Alencar, Eça e Ortigão, muitos renomeados compositores ensaiaram seu gênio inventivo via recursos da crônica, em livros e folhetins. E também nos jornais. De passagem e a propósito, cumpre dizer, a espécie literária em alusão constitui uso particular, ainda hoje, da prática jornalística do País, sendo este um dos poucos, senão o único, a exercer a crônica, mediante a qual obtiveram visão pública eminentes jornalistas pátrios, hoje cultuados, como o foram, dentre tantos, Evaristo da Veiga, Alcindo Guanabara e Carlos Lacerda.

Com imenso agrado, há pouco deparei a leitura dos originais de Conversa de domingo, crestomatia muito bem joeirada, da autoria de João Soares Neto, conhecido e apreciado cronista e homem de negócios cearense. Ali, exprime suas prendas naturais na grade literária ora sob glosa, obediente ao melhor padrão estético e sujeito às regras da língua, averso, no entanto, daqueles servilismos elocutórios, de natureza estilística, tão comuns aos escrevinhadores ainda estagiários na senda nem sempre muito acessível da literatura.

Sua prosa é fácil, magnificamente correta, arquitetada com o esmero vocabular e o veio imaginativo do escritor pronto, na qual demonstra, nas entrelinhas, conhecimento lato e erudição temperante, como se estivesse a cuidar para não parecer afouto na manifestação de seus capitais cultural e social, fato, convenhamos, alentador para o consulente avesso a exibicionismos estilísticos e jactâncias pessoais.

Conversas de domingo reúne poucas dezenas de gimmics de apurado paladar artístico, a ser saboreado de uma vez, em assentada única, para regozijo do espírito e levitação anímica, tal se apresenta seu teor bem meditado, sob agradáveis recursos literoestilísticos. Tem seu continente achegado dos toques de esteta plástico, assinados por Geraldo Jesuíno da Costa, bem como da Nota a si acrescida pelo editor e escritor brasileiro, com visão internacional, Nilto Maciel, ataviando redundantemente um trabalho já por si mesmo nutrido de alcance e merecimento.

Gostei de ver e recomendo a leitura.



Obs. De estudo, não empreguei a partícula que (como o faço há algum tempo) em nenhuma das classes de palavras a que pertence.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pitacos