Ab imo pectore.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Teoria (e prática) dos Afetos


Em pleno domingo quasímodo (11.04.2010), experimentei o encanto de ler um mimo do Criador, obsequiado à imensa poetisa Neide Azevedo Lopes, logo a mim por ela substabelecido.


A quadra pascal é espiritualmente propícia para se apreciar arte tão edificante, a fim de se teorizar e, jamais, praticar metros e afetos, como procede a autora de Teoria dos Afetos desde o uso da razão, quando sua vida passou a coincidir com uma rima rica.

Neide fez-me lembrar de Sônia Leal Freitas, no Cedro do Éden, monumental obra acerca da qual comentei nas guarnições há uns oito anos.

Na Teoria (e na prática) dos afetos, também quedo pasmado, como a reler o Metal Rosicler, de Cecília Meireles, menos por identidade estilística e mais pelo esplendor vocabular e elevação ideativa, fluência e estro desdobrados, centuplicados a cada elaboração. Nalgumas passagens, Neide, também, mostra similitude com Gabriela Mistral, Nobel de Literatura (1945), no seu Ternura, enquanto noutras estâncias aparece, ainda, com a elevação comovente da Marquesa de Alorna.

Pelo fato de bem o saber, ela emprega, com propriedade e exatidão, os expedientes figurais admissíveis na poesia, aformoseando redundantemente a estesia de suas composições. E assim, tomada por um enlevo anímico, veemência dos escolhidos, achega-se ao Ressuscitado, para o Qual também solicita o leitor a rezar, ao decodificar suas primorosas composições.

Tal como sucede com Sônia, sua originalidade e inspiração multíplice de elaborar representações, conformando-as extraordinariamente à dvlcisonam et canoram lingvam cano, parecem acercá-la de Florbela (de Alma da Conceição) Espanca (Juvenália; Livro das Mágoas).

Também os efeitos imprimidos nas expressões de musicalidade do seu metro fazem-me evocar os botticellis, rafaéis e michellangelos da Capela Sistina, bem assim a expressão da alma nacional galega de Rosalía de Castro, em O Cavaleiro das Botas Azuis.

Neide Azevedo Lopes é um verso de sete ictos do sonetilho a exornar a poética tematicamente múltipla, de formosura inimitável, beleza desigual, diretamente proporcional à magnificência de sua adorável pessoa.

TEMPO FUGAZ*



A marcha rigorosa do tempo chega a impressionar pela rapidez como acontece, haja vista sua cadência inalterável, de compasso absolutamente regular, a registar as coisas com tudo já delineado, como lima a operar sem fazer ruído.

Esta reflexão tenciona evocar os dois anos de passamento do Professor Ícaro de Sousa Moreira (17.04.2008), na plena maturescência produtiva, aos 55 anos, no exercício de dez meses como reitor da Universidade Federal do Ceará.

Qual em uma quadra kubitsckeana – fazendo remissão aos “50 anos em cinco” do Presidente Juscelino – os pouco mais de 300 dias de administração do décimo segundo reitor da UFC foram munificentes em realizações, pródigos na efervescência institucional, com o início e desenvolvimento de arrojados projetos, ainda hoje em franco decurso, cujos objetivos bem meditados lhes asseveram o êxito planejado.

A interiorização-“litoralização” da UFC, envolvendo o tripé da atividade acadêmica em Sobral, no Cariri (criação e expansão) e Quixadá, por exemplo, demonstra cabalmente a firmeza de propósitos da sua administração – bem assim, em tese, de administrações anteriores – na determinação com que abraçou a efetividade de tão ousados projetos universitários.

Assim o são, também, outros da mais alçada significação, como a conquista , sob seu reitorado, da elevação do conceito de 12 cursos de pós-graduação, a transformação do Instituto de Cultura e Arte – ICA em unidade acadêmica e tantos outros cujo cômputo não é cabível aqui declinar.

O mais relevante é o fato de ter sido ele exemplo de intrepidez responsável, valentia reverente e ousadia indômita, nas 15 horas ou mais dedicadas à Instituição, e, em cascata, emulando seus assessores e todo o conjunto de recursos humanos a agilitar o ritmo do seu trabalho para se compadecer à sequência expedita de sua maneira de operar.

Assim, agora sob a regência do seu então vice-reitor, Prof.Professor Jesualdo Farias – o qual a consulta acadêmica, em momento de lucidez, escolheu para o mandato de quatro anos – o compasso laboral é semelhante e o “élan” funcional apresenta-se em elevação, de sorte que os resultados – também de programas feridos a ”posteriori” a sua passagem pela dimensão terrena – são exibíveis em documentos, nos “media” e na própria visão pública das obras executadas em visível e desembaraçada realização.

Sob o balanço deste singular momento por que transita nossa Universidade, de crença institucional e trabalho efetivo em programas que transpõem até a expectativa de normalidade da Academia, a Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura acompanha suas fundas pegadas, quando se desincumbe -- avessa aos malefícios do tempo e simpática aos dividendos que este nos deu como herança -- sua tarefa de apoiar a UFC nos seus subidos propósitos, oferecendo equipamentos tecnológicos e humanos , com inteligência, responsabilidade e determinação, com vistas ao engrandecimento e perpetuidade do nosso labor conjunto.

Não nos incomodemos com o tempo. Aproveitemo-lo, porque, como sugere Quevedo y Villegas, não se veem as pegadas do dia, pois este só volta a cabeça para se rir dos que o deixam passar ...

(GUIMARÃES, F.A. Palavra do Presidente, in FCPCmídia, n.2)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

PROSA AOS DOMINGOS





Nutro particular afeição pelo jaez literário da crônica. A leveza desse gênero, decerto, atrai a maioria dos leitores, nomeadamente se veiculada nos diários sabatinos e dominicais.

Nos fins de semana, os cadernos se conformam, também, a matérias menos prosaicas, transpondo a trivialidade de notícias, reportagens, entrevistas e demais expedientes informacionais a suster o periodismo diurnal das nossas cidades.

O exercício da crônica, a despeito de praticado desde datas muito recuadas, como suporte de relatos verdadeiros e nobres, passou, nos oitocentos, a ser móvel da atenção de escritores de nomeada, os quais a desenvolveram à saciedade, para refletir, com perspicácia e em momentos propícios, a vida da sociedade, concernente às relações sociopolíticas, motos culturais citadinos e a tantos outros motivos a ensejar conceitos.

Conforme o fizeram, exempli gratia, no Brasil e em Portugal, Machado, Alencar, Eça e Ortigão, muitos renomeados compositores ensaiaram seu gênio inventivo via recursos da crônica, em livros e folhetins. E também nos jornais. De passagem e a propósito, cumpre dizer, a espécie literária em alusão constitui uso particular, ainda hoje, da prática jornalística do País, sendo este um dos poucos, senão o único, a exercer a crônica, mediante a qual obtiveram visão pública eminentes jornalistas pátrios, hoje cultuados, como o foram, dentre tantos, Evaristo da Veiga, Alcindo Guanabara e Carlos Lacerda.

Com imenso agrado, há pouco deparei a leitura dos originais de Conversa de domingo, crestomatia muito bem joeirada, da autoria de João Soares Neto, conhecido e apreciado cronista e homem de negócios cearense. Ali, exprime suas prendas naturais na grade literária ora sob glosa, obediente ao melhor padrão estético e sujeito às regras da língua, averso, no entanto, daqueles servilismos elocutórios, de natureza estilística, tão comuns aos escrevinhadores ainda estagiários na senda nem sempre muito acessível da literatura.

Sua prosa é fácil, magnificamente correta, arquitetada com o esmero vocabular e o veio imaginativo do escritor pronto, na qual demonstra, nas entrelinhas, conhecimento lato e erudição temperante, como se estivesse a cuidar para não parecer afouto na manifestação de seus capitais cultural e social, fato, convenhamos, alentador para o consulente avesso a exibicionismos estilísticos e jactâncias pessoais.

Conversas de domingo reúne poucas dezenas de gimmics de apurado paladar artístico, a ser saboreado de uma vez, em assentada única, para regozijo do espírito e levitação anímica, tal se apresenta seu teor bem meditado, sob agradáveis recursos literoestilísticos. Tem seu continente achegado dos toques de esteta plástico, assinados por Geraldo Jesuíno da Costa, bem como da Nota a si acrescida pelo editor e escritor brasileiro, com visão internacional, Nilto Maciel, ataviando redundantemente um trabalho já por si mesmo nutrido de alcance e merecimento.

Gostei de ver e recomendo a leitura.



Obs. De estudo, não empreguei a partícula que (como o faço há algum tempo) em nenhuma das classes de palavras a que pertence.